Mortes por picada de escorpião crescem 58% na Bahia

Períodos chuvosos e excesso de calor propiciam maior incidência do animal em cidades.

Forte na Notícia

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O dia mal tinha começado quando Raimunda da Costa, 68 anos, foi fazer seus agradecimentos e pedidos matinais no quintal de casa, próximo a um cajueiro, e acabou sendo picada por um escorpião, no distrito de Monte Gordo, em Camaçari.

O episódio da aposentada é um dos 14.359 acidentes de escorpiões registrados na Bahia, entre janeiro e setembro de 2023, na Bahia, de acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab).

O número chama atenção porque apresenta um crescimento significativo se comparado ao ano passado: o estado havia registrado 14.046 casos neste mesmo período em 2022.

As cidades com mais notificações são Vitória da Conquista (666), Feira de Santana (452), Poções (239) e Condeúba (236). Em todo o estado, 19 pessoas morreram por acidente escorpiônico em 2023 (até o dia 25 de setembro), de acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação, sendo Baixa Grande e Mortugaba os municípios que registraram mais óbitos: dois em cada cidade. No ano passado, o mesmo período registrou 12 mortes na Bahia.

"Apesar destes números de óbitos notificados, temos verificado ao longo dos últimos anos que apenas cerca de 10% das notificações têm confirmada a ocorrência de óbito, o restante consistindo em erro de notificação", pontuou o diretor do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Bahia (CIATox-BA), Jucelino Nery.

Urbano e rural

Embora o caso de dona Raimunda não tenha se agravado, a picada de escorpião não é algo que possa ser desconsiderado. No mesmo período de 2022, foram 12 óbitos, 58% a menos que em 2023.

Dona Raimunda mora em uma casa com quintal, mas se engana quem pensa que quem reside em apartamento está livre do perigo. Durante uma atividade de capacitação, na semana passada, que contou com a participação de 50 profissionais de 28 regiões de Saúde da Bahia, 25 escorpiões foram encontrados, em um único dia, no Condomínio Presidente Costa e Silva, em Brotas.

Os aracnídeos foram localizados em caixa de gordura e ambientes com restos de material de construção. O condomínio foi escolhido pelo CIATox-BA devido ao número de ocorrências de escorpiões no bairro.

Procurado, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, informou que não divulga os dados dos bairros. De acordo com a síndica do condomínio Elaine Colussi, o terreno desnivelado influencia a alta incidência, assim como a presença de frestas nos passeios. Ela contou que um colaborador e um cachorro foram picados dentro do residencial, mas estão bem. No total, a capital baiana registrou 34 acidentes em 2023, número que a coloca na 138º posição no ranking de cidades que registraram mais acidentes. Segundo Nery, esse número é reflexo da urbanização e de melhores condições de saneamento básico da cidade.

Ainda conforme o diretor do CIATox-BA, vários fatores influenciam neste crescimento de ocorrências, com destaque para desmatamento, queimadas e mudanças climáticas.

Os dois primeiros influenciam o deslocamento dos aracnídeos do seu habitat natural. Por causa desses eventos, os escorpiões vão em busca de proteção e, consequentemente, acabam encontrando ambientes domésticos com condições propícias para a própria instalação. "Acúmulo de material de construção e de lixo, além de caixas de esgotos abertas facilitam o surgimento de insetos, como baratas, grilos, cupim, aranhas e gafanhotos – animais que fazem parte do cardápio do escorpião. Nestes lugares, eles se instalam e acabam se reproduzindo", explica Nery.

Períodos chuvosos e excesso de calor também são fatores que propiciam maior incidência de escorpiões. A massa de ar quente que elevou as temperaturas de municípios da Bahia, Distrito Federal e dos estados de Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minhas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Tocantins e São Paulo, desde a semana passada, pode aumentar o número de acidentes com o aracnídeo. "Esperamos um aumento de ocorrências nos próximos meses, por causa dessa onda", disse Nery. A reportagem entrou em contato com as Secretarias de Saúde das cidades que registraram mais casos, mas só obteve respostas das de Feira de Santana e Vitória da Conquista.

De acordo com a SMS de Feira, os bairros com mais registros são Distrito de Maria Quitéria (62), Campo Limpo (39) e Tomba (28). Nenhum óbito foi registrado na cidade em 2023. Em Conquista, os bairros Brasil, Santa Marta e São Vicente registraram maior incidência – números não foram detalhados pela pasta. "A SMS tem feito o trabalho constante de prevenção e educação em saúde junto à população, principalmente na época de reprodução, e realizando a captura dos escorpiões, atendendo as denúncias feitas ao CCE", diz trecho da nota da SMS de Conquista.

Recomendações

Para evitar problemas com o surgimento de escorpiões, basta seguir as recomendações da Sesab:

  • Manter ambientes domiciliares e locais próximos à residência limpos, livres de lixo e entulho;
  • Evitar empilhamento de madeiras e acúmulo de material de construção;;
  • Fechar as aberturas de portas e janelas, principalmente à noite e em regiões que costumam registrar incidências;
  • Colocar protetores em portas e janelas;
  • Manter camas e berços afastados de paredes que não são rebocados;
  • Evitar que lençóis e colchas toquem o chão, porque isso favorece a passagem de escorpiões para o colchão;
  • Sempre sacudir toalhas, roupas de cama, roupas e calçadas antes de utilizá-los.

Em caso de aparecimento de escorpiões na residência, Nery orienta a procura pelo Centro de Controle de Zoonose mais próximo. Em Salvador, o atendimento acontece por meio dos números (71) 3202-2261 ou 3202-1269 ou pelo Fala Salvador, no número 156.

Caso aconteça algum acidente com escorpiões, o professor da Escola Bahiana de Medicina Artur Gomes Dias Lima orienta ir aos centros antivenenos, onde se encontra o soro antiescorpiônico. "Quanto mais cedo chegar ao socorro, maiores chances de tratamento", pontuou.

Em Salvador e cidades vizinhas, o centro de emergência é o Centro de Investigação (CIAVE), no Hospital Roberto Santos, Cabula. No interior, os hospitais regionais estão aptos a atender.